Cidade-Flor
Cidade-Coração
Nomeou-me Leiria embaixador
Para saudar-vos nesta hora clara
Do mais vivo esplendor
Que jamais, até hoje se alumiara
E cedi com vaidade: pela minha
Terra, minha saudade há tantos anos
E que é da Estremadura alta rainha
E por vós dois: excelsos soberanos
Crede: Leiria é digna de visita.
Não exibe a riqueza deslumbrante
Que cega e oprime que entontece e grita
E chega a amedrontar o viandante,
Mas é…, como direi…bem comparada…
Uma Cidade-Flor! É pequenina
Mas tão airosa, amável, perfumada
Como gentil grinalda de menina.
E quanto acolhedora: – uma cidade…
(Não sei onde encontrar comparação
Que possa dar ideia da verdade…)
Vamos… uma Cidade-Coração.
– «Estranha imagem» notareis; por certo,
Mas é condão de alguns ouvir e ler
Nítido em tudo, como em livro aberto,
Aflição ou prazer…
Assim, desde o seixinho humilde e bruto
Aos mais aparatosos arvoredos,
O coração da minha terra escuto
E entendo em seus recônditos segredos.
Se quisésseis no meu sonho acompanhar-me
Artistas milagrosos da harmonia
Ouvireis em primeiro e junto alarme
O elegante castelo de Leiria…
Depois, o brando e donairoso Lis,
Seus marachões, seus salgueirais e noras,
Os miradouros onde D. Dinis
As estrofes singelas e sonoras
Oferecia à «flor de verde pino»…
Os arcos e os balcões do burgo antigo…
Os sinos…(Um irmão em cada sino,
Tão íntimo, tão nosso, tão amigo!…)
A capelinha de onde avisto as Cortes
De Xavier Cordeiro, senhoriais…
No vento inquieto, as Fontes,
Emanações sádicas dos pinhais…
Leiria toda, enfim, de canto a canto,
Jóia de engaste lindo entre as mais lindas
Ouvireis, comigo, dizer: Quanto!
Oh! quanto nos honras! Sede bem-vindas!
Acácio de Paiva
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