domingo, 1 de agosto de 2010

FRANCISCO RODRIGUES LOBO



O Poeta que cantou o seu rio

Fermoso rio Lis, que entre arvoredos
Ides detendo as águas vagarosas,
Até que üas sobre outras, de invejosas,
Ficam cobrindo o vão destes penedos;

Verdes lapas, que ao pé de altos rochedos
Sois morada das Ninfas mais fermosas,
Fontes, árvores, ervas, lírios, rosas,
Em quem esconde Amor tantos segredos;

Se vós, livres de humano sentimento,
Em quem não cabe escolha nem vontade,
Também às leis de Amor guardais respeito.

Como se há-de livrar meu pensamento
De render alma, vida e liberdade,
Se conhece a razão de estar sujeito?


Primavera, Vales e Montes..., Floresta Undécima


mas também o rio que o levou


Fermoso Tejo meu, quão diferente
Te vejo e vi, me vês agora e viste:
Turvo te vejo a ti, tu a mim triste,
Claro te vi eu já, tu a mim contente.

A ti foi-te trocando a grossa enchente
A quem teu largo campo não resiste;
A mim trocou-me a vista em que consiste
O meu viver contente ou descontente!

Já que somos no mal participantes,
Sejamo-lo no bem. Oh, quem me dera
Que fôramos em tudo semelhantes!

Mas lá virá a fresca Primavera:
Tu tornarás a ser quem eras dantes,
Eu não sei se serei quem dantes era.


Fénix Renascida, I


as mulheres


MOTE

Coração, olha o que queres:
Que mulheres, são mulheres...

VOLTAS

Tão tirana e desigual
Sustentam sempre a vontade,
Que a quem lhes quer de verdade
Confessam que querem mal;
Se Amor para elas não val,
Coração, olha o que queres:
Que mulheres, são mulheres...


Se algüa tem afeição
Há-de ser a quem lha nega,
Porque nenhüa se entrega
Fora desta condição;
Não lhe queiras, coração,
E senão, olha o que queres:
Que mulheres, são mulheres...

São tais, que é melhor partido
Para obrigá-las e tê-las,
Ir sempre fugindo delas,
Que andar por elas perdido;
E pois o tens conhecido,
Coração, que mais lhe queres?
Que, em fim, todas as mulheres!


Primavera, Praias do Tejo, Floresta Terceira

e que, tendo ouvido contar como, no tempo em que os animais falavam,

"se fez valente e temido
um vil jumento, escondido
nos despojos de um leão."

do seu tempo (e deste, digo eu,) assim ajuiza


Quantos há, na nossa aldeia,
leões e lobos fingidos,
que houveram de andar despidos,
se não fora a pele alheia!

2 comentários:

  1. Por Leiria têm passado e/ou foi berço de grandes homens e mulheres, e ainda tem e é. Contudo, malgrado muitas iniciativas, continuo a achar que é um deserto cultural. Essa cultura talvez seja apenas uma capa, ou tem uma capa a tapá-la. Há qualquer coisa que não funciona!

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  2. Não será um maior deserto cultural do que o país... e, já agora, do que o mundo! Afinal, o que é isso de cultura? P'ra que serve? Qtº vale?...
    Eu cá, desde o advento e oficialização do "númaro" que já em pouco acredito... nem mesmo nos "poetas cultivados" (VGM)!...

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