segunda-feira, 11 de junho de 2012

Pois bem!


Nesta época de crise, desalento e pobreza, em que se começa a ter dúvidas sobre a viabilidade de PORTUGAL, faz-nos bem recordar, ainda que seja com um sorriso, este poema do poeta AFONSO LOPES VIEIRA...
Por uma vez, alguém, que contrariando este fado português se mostra cheio de um amor próprio que nos devia inspirar


Se um inglês ao passar me olhar com desdém,
num sorriso de dó eu pensarei: — Pois bem!
se tens agora o mar e a tua esquadra ingente,
fui eu que te ensinei a nadar, simplesmente.
Se nas Índias flutua essa bandeira inglesa,
fui eu que t'as cedi num dote de princesa.
e para te ensinar a ser correcto já,
coloquei-te na mão a xícara de chá...

E se for um francês que me olhar com desdém,
num sorriso de dó eu pensarei: — Pois bem!
Recorda-te que eu tenho esta vaidade imensa
de ter sido cigarra antes da Provença.
Rabelais, o teu génio, aluno eu o ensinei
Antes de Montgolfier, um século! Voei
E do teu Imperador as águias vitoriosas
fui eu que as depenei primeiro, e ás gloriosas
o Encoberto as levou, enxotando-as no ar,
por essa Espanha acima, até casa a coxear

E se um Yankee for que me olhar com desdém,
Num sorriso de dó eu pensarei: — Pois bem!
Quando um dia arribei á orla da floresta,
Wilson estava nu e de penas na testa.
Olhava para mim o vermelho doutor,
— eu era então o João Fernandes Labrador...
E o rumo que seguiste a caminho da guerra
Fui eu que to marquei, descobrindo a tua terra.

Se for um Alemão que me olhar com desdém,
num sorriso de dó eu pensarei: — Pois bem!
Eras ainda a horda e eu orgulho divino,
Tinha em veias azuis gentil sangue latino.
Siguefredo esse herói, afinal é um tenor...
Siguefredos hei mil, mas de real valor.
Os meus deuses do mar, que Valhala de Glória!
Os Nibelungos meus estão vivos na História.

Se for um Japonês que me olhar com desdém,
num sorriso de dó eu pensarei: — Pois bem!
Vê no museu Guimet um painel que lá brilha!
Sou eu que num baixel levo a Europa á tua ilha! 
Fui eu que te ensinei a dar tiros, ó raça
belicosa do mundo e do futuro ameaça.
Fernão Mendes Zeimoto e outros da minha guarda
foram-te pôr ao ombro a primeira espingarda.

Enfim, sob o desdém dos olhares, olho os céus;
Vejo no firmamento as estrelas de Deus,
e penso que não são oceanos, continentes,
as pérolas em monte e os diamantes ardentes,
que em meu orgulho calmo e enorme estão fulgindo:
— São estrelas no céu que o meu olhar, subindo,
extasiado fixou pela primeira vez...
Estrelas coroai meu sonho Português!

P.S.
A um Espanhol, claro está, nunca direi: — Pois bem!
Não concebo sequer que me olhe com desdém.

(Recebido por e-mail)

6 comentários:

  1. Bom dia

    Vem mesmo a calhar este poema de Afonso Lopes Vieira.
    Estou a ler um livro muito interessante a abordar o fado de ser Português sob uma perspetiva fascinante.

    VIVA PORTUGAL

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  2. Pode saber-se que livro é esse? Para adicionar à pilha que aguarda vez...
    Viva Portugal "de lés a lés" (oiça no Fadocravo, se é que gosta de Fado...)
    Cumpts
    O.

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  3. Muito giro! Muito bem posto! Que poetas imensos temos!
    Obrigada por nos ter dado a conhecer.

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  4. É pena que os conheçamos tão pouco e tão mal... Por mim falo, já se vê! Uma falha que, persistentemente, tento superar, agora que a idade já me convida mais a actividades menos físicas e mais intelectuais, embora a consulta de alfarrábios na Hemeroteca, por ex., se possa tornar até num exercício bué radical :-)

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  5. Bom dia, só agora é que reparei na pergunta que me faz quanto ao livro a que me refiro:

    A PRIMEIRA ALDEIA GLOBAL
    COMO PORTUGAL MUDOU O MUNDO
    Martin Page
    Ed. casadasletras - 2012 (9ª edição)

    António
    É reconfortante a sua leitura, para além de ser muito pedagógico.

    "Martin Page apresenta-nos uma nova perspectiva sobre um país fascinante."
    Financial Times
    Pode-se ver a capa em
    http://az-bibliotca.blogspot.pt/2012/06/portugal-primeira-aldeia-global.html

    Gosto (muito) de Fado.
    Vou lá dar uma espreitadela do Fadocravo, que consulto com alguma regularidade.

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  6. Obrigada pela informação.
    "Um país fascinante", isso mesmo; por vezes, até parece que só os portugueses é que não deram por isso!...
    Gostei de saber que aprecia a nossa Canção Nacional,como já foi chamado, o Fado. Pelo Fadocravo nos encontraremos ou então nos Fadistascomoeusou.
    Cumprts
    O.

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